Por Arthur R. Silva
O filme “Invisibilidade”, dirigido por Túlio de Melo, apresenta uma triste realidade das mulheres travestis no Brasil, condizente com o título que a obra apresenta. Os personagens do curta-metragem, Mychely e o “Agressor”, interpretados por Marcus Motta e Djalmir Senna, conseguem transmitir muito bem esse lado obscuro do dia-a-dia que essas mulheres enfrentam.
A montagem do filme, feita por Leandro de Alcântara, desde o seu início com a personagem principal no ponto de ônibus já demonstra o isolamento que ela passa em boa parte do curta, junto a ambientação escura das cenas em bairros/regiões periféricas da cidade, que ao todo sempre demonstra um ar de insegurança, ainda mais nos momentos no qual o personagem do “Agressor” aparece seguindo Mychely pelos becos.
No decorrer da história, temos duas situações de câmera, a “agressiva” e “tranquila”, colocadas perfeitamente em momentos adequados à cena. Algumas das situações em que a personagem se encontra em regiões mais escuras, a câmera trabalha de forma “agressiva” (ou movimento), nos dando certa agonia e sensação de perigo, principalmente quando notamos a presença do “Agressor”.
Um bom exemplo desse “jogo” com a câmera é quando Mychely está tomando banho, vemos que a câmera dentro de casa fica “tranquila” (segurança), já quando a mesma cena é feita do lado de fora, da qual olhamos pela janela, ela volta a ficar “agressiva” (perigo).
Um fato bem presente e interessante durante todo o filme é a falta de diálogos “falados” entre os personagens, pois é notório como a produção optou por colocar de forma proposital esses “diálogos” na sua trilha sonora e montagem para poder transmitir essa crítica.
A “invisibilidade” também é presente em muitos aspectos além da sociedade com a personagem principal, vão desde o “Agressor” sempre se ocultando nas sombras (ou seja, querendo ficar invisível), a falta de falas dos atores, a ambientação escura em maior parte e entre outros.
No final das contas, a produção consegue acertar em cheio quanto a sua crítica a essa falta de atenção da sociedade para com as mulheres trans do nosso país. Uma situação que é agoniante durante todo o curta-metragem, mas infelizmente real, que pode fazer você se emocionar e refletir como ainda temos muito a evoluir como pessoa e sociedade.
