Por: Arthur R. Silva
Com Leandro de Alcântara na direção, Túlio de Melo como codiretor e Romário Srowasde Xerente como personagem principal, o filme de curta-metragem “Da Aldeia à Universidade” consegue trazer muita coisa importante em tão pouco tempo. Quando vemos o título da obra, pensamos nele de maneira literal, então naturalmente esperamos assistir à rotina de um acadêmico indígena saindo da sua aldeia e o seu caminho até a universidade, com as demais dificuldades que isso traz. Mas é só quando assistimos que notamos o quanto estamos redondamente enganados.
A maestria do curta já começa, desde o título, com esse brilhante plot twist (reviravolta) que só melhora com o andar dos minutos. As cenas iniciais já nos fazem emergir dentro do ambiente em que ele vai se passar. Com sons leves e suaves da natureza, adentramos uma realidade que, quando a entendemos, vamos pensar duas vezes antes de reclamar de, por exemplo, perder um ônibus do transporte público. “Da Aldeia à Universidade” pode-se traduzir como: de uma cultura a outra.
Num primeiro momento, parece estranho o filme não sair da aldeia para poder explicar isso ao espectador(a), mas é só quando as falas do Romário (e dos outros) entram que, enfim, entendemos. Não precisamos ver, temos que saber ouvir e perceber que suas batalhas para o aprendizado são tão árduas quanto as de muitos outros. Não se trata apenas de chegar ao local; trata-se, na verdade, de ir por vários quilômetros a um lugar, aprender e se adaptar a uma realidade cultural completamente diferente da sua (língua, modos, escrita etc.).
Com apenas palavras, fica evidente que esse choque de culturas se torna o principal pilar de toda essa questão. Porém, não ficamos só com os lados ruins dessa realidade, pois a mensagem não é apenas conversar sobre isso, mas também incentivar a vários a não desistirem, e de acordo com os diretores, o filme, com poucas exibições, já conseguiu esse feito com uma estudante indígena que assistiu à produção. Com o tempo, esse tipo de efeito tende a aumentar, já que excelentes produções rendem excelentes frutos.
O curta-metragem sabe muito bem (muito devido à sua direção) o que quer mostrar, ou melhor, dizer. As mensagens transmitidas são tão claras quanto a luz do dia e, ao final do filme, nos faz refletir sobre a questão, o que é ótimo, já que muitas produções não conseguem tal feito nem mesmo mostrando aquela realidade acontecendo em cena. Estar só na aldeia e em seu cotidiano local durante todo o filme mostra muito bem que realidades são essas e o “porquê” de tudo. Ou seja, não precisamos sair de lá para isso. No final das contas, essa é uma produção que precisa de apenas dezesseis minutos para entendermos um universo inteiro.
